sábado, 18 de abril de 2009

Coimbra, 17 de Abril de 1969 (III)




Estávamos em Abril de1969. Vivia-se no Estado Novo, um regime conservador democrático cristão, de partido único (União Nacional), autoritário, corporativista, parlamentar (sim, havia Assembleia da República com deputados). O que os deputados por lá faziam não tinha grande importância tal como hoje! Salazar já tinha caído da cadeira (hoje sabe-se que não foi bem assim) e Marcello Caetano já era o presidente do Conselho de Ministros, ou seja o Primeiro-Ministro. Américo Thomaz era o Presidente da República. No ano anterior em França, em Maio de 1968 estudantes tinham começado greves que se expandiram a outros operários, greves essas contra Charles de Gaulle, Presidente da França e que matava uns sujeitos na Argélia. Como já éramos algo atrasados, esses movimentos começaram a fazer eco em Portugal quase 1 ano depois.
O novo departamento de Matemática da Universidade de Coimbra tinha acabado de ser construído. Iria ser inaugurado nesse dia. Entre várias personalidades vieram o ministro das Obras Públicas, o ministro da Educação (o apresentador de tv o Professor Hermano Saraiva) e o Presidente, Américo Thomaz. Foram recebidos na reitoria pelo reitor da Universidade. Dirigiram-se depois para o largo D.Dinis onde está o edifício e onde estavam manisfestantes. Américo Thomaz acenou à multidão, não se apercebendo bem do que se estava a passar. Hermano Saraiva já suava por todos os lados. Alberto Martins, presidente da AAC já sabia de véspera que não estava previsto que discursasse na cerimónia. Já dentro da sala Infante D. Henrique (hoje chama-se sala 17 de Abril, já lá tive aulas por 2 cursos diferentes) o presidente da associação de estudantes levanta-se e pede para usar a palavra. Américo Thomaz fica com a boca aberta e quase sem saber o que fazer diz :"Agora fala o Ministro das Obras Públicas". Hermano Saraiva olhava com olhos de boi marrão para os elementos da PIDE presentes na sala. No fim quando se esperava que a palavra fosse dada ao Alberto Martins, os governantes levantaram-se e foram embora debaixo de um apupo de "palhaços", "vergonha". Alberto Marins foi preso, Hermano Saraiva acabou por deixar o ministério, houve tumultos, greves às aulas e aos exames, Assembleia Magna, A cidade viu-se cercada de Polícia. A Académica foi à final da taça contra o Benfica, queriam jogar de luto (ou seja, de branco) mas não deixaram. Os estudantes foram em peso para o estádio com tarjas de protestos que a PIDE bem tentou capturar, mas os estudantes escondiam-nas e faziam-nas aparecer na bancada oposta. Foi a primeira vez que a final da taça não era transmitida pela TV, porque não convinha ao regime.
Há quem diga que foi aqui um dos focos de início do golpe de Estado! Eu pergunto, terá valido a pena? Foi para chegar a este estado de coisas que quis tomar a palavra ao Almirante Thomaz? Foi para o Alberto Martins ser hoje líder da bancada parlamentar do PS? Era isso que ele queria na altura? Era este sistema de Educação que ele defendia? Eram estas Universidades quase falidas e cada vez mais elitistas que ele pretendia? Ou era "dá cá o meu oh Abreu" que é a vida dele lá no Parlamento? Era esta a democracia dos 2 milhões de portugueses pobres que ele defendia? A idéia no início era boa, mas esta corja, esta semi-elite política que há 40 anos começava a nascer, acabou por borrar a pintura. 25 de Abril sempre! Fascismo nunca mais..........volta!

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