segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

10 euros para pagar 4.80, ao menos a moeda de 20 como gorjeta

Só agora li o último artigo do meu ex-professor de Filosofia da Educação, José Boavida e constato que se o tivesse lido antes, não lhe tinha dito na Sexta quando o atendi no Académico, que os textos dele (no Diário das Beiras) são muito densos (para não dizer entediantes), "mas professor, não é porque eu tenha preguiça intelectual" e ...até lhe tinha pago o Ucal "quentinho". 
Bem, se calhar não pagava porque ele nem gorjeta deu.
Deu-me 15 de nota final na altura, vá (numa história rocambolesca de meritocracia).





«Num editorial recente, o Diretor lembrou ser este um jornal de leitores, e ao prometer acentuar esta tendência, deu-nos uma boa notícia. Pode parecer tão evidente que nem precisa de ser dito, mas há muitas publicações que não são para leitores mas para olheiros, são passadeiras de olhos, ou nem isso.
jornais e revistas só com intriga política, escarafuncho humano, barulho noticioso e visual. E quer folheados do princípio para o fim, quer do fim para o princípio, dão o mesmo. Podemos também dizer que a multiplicidade das imagens e dos ruídos que se cruzam e sobrepõem ininterruptamente, hoje, criam nuvens que ofuscam a visão, tiram condições ao pensamento, desabituam as pessoas de analisar e avaliar, impedindo-as de separar o importante do inútil e do prejudicial.
A política tornou-se espetáculo e palavras de ordem, e muitos debates são logomaquias sem fim viciadas à partida. Alguns dos que fazem a nossa opinião são opinadores profissionais, pau para toda a obra, outros, soldados dos partidos, outros ainda, aparecedores profissionais apreciados pelo visual. Uns, garantem a visualidade e a superficialidade necessárias para não enfadarem e prenderem o telespectador pelo anzol, outros, antes de os ler ou ouvir, já sabemos o que vão dizer. Nada disto interessa.
Mas há ainda comunidades de leitores no sentido de pessoas que gostam de ler textos bem pensados e honestos, e essas pessoas devem merecer consideração porque é nelas que se esconde um pensamento que continua a trabalhar em muitas cabeças. E ainda bem porque é essa capacidade de análise, ponderação e bom senso que vai sustentando a civilização e a paz. Sim, porque não faltam bárbaros com formas violentas ou ardilosas de nos condicionar pensamentos e decisões, trabalhando afanosamente para a nossa alienação intelectual e moral. Tudo o que se puder fazer para lutar contra estes infantilizadores profissionais é da maior utilidade. Portanto, um jornal de leitores é uma coisa preciosa. Coimbra, com uma densidade populacional com cultura superior à média tem, objetivamente, condições favoráveis, penso eu, para jornais que pretendam ser comunidades de leitores. É uma vantagem que não pode ser esquecida, que foi desaproveitada durante muito tempo, mas que começa a ser vista como coisa valiosa, e que devemos rentabilizar.
Além disso, os jornais de uma cidade são fatores de agregação social, de consciência coletiva, que devemos acarinhar. Fazer de um jornal, cada vez mais, uma comunidade de leitores esclarecidos e exigentes tem por isso um valor social, cívico e cultural sem preço. E embora me pareça que nem sempre há, por parte das entidades patronais, um tratamento de igualdade relativamente a jornais de âmbito nacional, os progressos feitos são enormes no que diz respeito à profissionalização dos seus quadros e às melhorias de conceção e execução gráfica.
Por isso, com esta qualidade técnica e os excelentes profissionais que este jornal tem, aos leitores é preciso pedir mais. Não basta ler o jornal no café do bairro, é preciso fazer mais pela cidade e pela região, também através dos jornais. Pense nisto, você que me leu até ao aqui.»
Diário das Beiras 01-02-2011.

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