domingo, 20 de setembro de 2009

Gandarês


Já tive situações em que pessoas que lidam no dia-a-dia comigo me perguntaram porque é que chamo péla a uma sertã de fritar uns bifes ou uns ovos. Isto entre outros termos e palavras que só nós do Seixo, de Mira ou da região da Gândara sabemos.

Isto a propósito da palavra "amargiar" um terreno para cultivar pasto. Não acredito que o anónimo não soubesse mesmo o que quer dizer "amargear" ou "amargiar". Certamente estaria a ser irónico. Vejam o discurso deste outro anónimo:
"Toda aquela conversa de “amargiar.. côdeas … arados… semear pasto…”, deixou-me cheio de fome. Já comia uma “marenda”!
Talvez uns “óbos” fritos numa “péla”, metidos dentro de um “bico” daqueles que vendia o “Bértolino”. E para acompanhar um “binho” servido numa “pecheira”. Talvez também umas batatas “cozhidas cum pele e tudo” numa panela com “testo”. E no fim, uma “málga” de café “do bô” (daquele vendido às 100 gramas na “Ti Rosja do Ferreiro, dentro do papel pardo de fazer as contas)."

Ps: Não sei quem é a Ti Rosja do Ferreiro! Se já faleceu, posso falar dela na mesma não posso?

22 comentários:

Madalena Oliveira disse...

“ A minha língua é a minha pátria”, diz-nos Fernando Pessoa.

Pátria é não só o espaço geográfico onde nascemos ou escolhemos viver, mas, acima de tudo, um núcleo de cultura. É aquele espaço social e psicológico onde bebemos o saber ancestral, onde aprendemos a falar e a pensar. Onde e donde, em primeiro, recebemos a seiva que nos faz seres humanos de uma determinada região.
Assim, aqui no Seixo, em Mira, na nossa Gândara, utilizamos vocábulos específicos que, afinal, nos são muito caros. Eu, também, digo “péla”, porque é esta palavra que aprendemos dos nossos maiores, e eles dos seus maiores, para designar o conceito e o objecto que serve para fritar. E muitas e muitas outras palavras, espólio cultural e caracterizador que devia estar a ser transmitido aos mais novos.
É pena que alguém do Seixo desconheça a palavra “amargear”.
Parabéns ao “Anónimo” que a definiu. É nosso dever ensinar e formar. Nem sempre as habilitações académicas superiores conferem à pessoa as características de culta e bem formada, ou detentora do bem maior que é o amor às suas origens. E ninguém pode amar o que desconhece.
Também para mim, a minha língua é a minha pátria, porque amo o espaço onde nasci e bebi, pela primeira vez o leite materno, alimento físico, espiritual e cultural.


Madalena Oliveira

20/09/2009

Madalena Oliveira disse...

Um P.S. ao meu texto anterior:
"Margear, v. t. Ir pela margem de. Andar ao longo ou ao lado de.Estar na margem de.
Prov. Abrir sulcos com arado (em terra semeada de cereais), para formar as margens que devem ficar entre os sulcos."

in O GRANDE DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA, FIGUEIREDO,Cândido de


Madalena Oliveira

20/09/02009

Anónimo disse...

Eu cá também sou muito erudito, mas não gosto de me armar!

Anónimo disse...

Melhor ainda é aproveitar os cuzes das batatas......

Anónimo disse...

E depois dar um "grafado d´erba e fechar a porta ao gado".

Anónimo disse...

A "Ti Rosa do Ferreiro" já faleceu sim. Há alguns anos. Tinha uma Taberna e loja (à antiga. Com todos os produtos nas prateleiras, por detrás do balcão. E um moinho de moer café, para venda de pequenas quantidades) situada na casa onde agora está o laboratório de análises clinicas.
Na minha opinião, pode-se falar de pessoas já falecidas, desde que não se ofenda a sua memória (ou a dos que estão vivos).

Ass. O anónimo das "pélas" e das "Pecheiras".

Anónimo disse...

Adoro ler os comentários aqui postados! Nada me deixa mais alegre do que reconhecer que já não sou só eu a "querer homenagear" os meus antepassados" Para esclarecimento dos leitores: a "Ti Rosa do Ferreiro" além da loja, leia-se mercearia (hoje dir-se-ia loja de conveniência!)possuia também uma leitaria e taberna! Isso mesmo! Era ali, na taberna, que ùltimamente se via e funcionava a máquina de moer café em pequenas (e grandes quantidades!) Nunca seria em grandes quantidades porque o dinheiro não abundava! Mas como eu me recordo da figura da Ti Rosa, bonacheirona, com alguma dificuldade em agarrar as moedas de tostão e dois tostões! Sim porque,dois tostões de tremoços, enchiam um "bonso" das calças e da mesma medida ainda sobravam uns poucos para o outro "bonso"!
A máquina de moer café estva á esquerda de quem entrava na taberna...

Anónimo disse...

afinal quem trouxe "à baila" o termo "amargiar", que não fui eu nem quero defender ninguem, até deu bons frutos. portanto, os "limitadinhos" deviam reconhecer algumas coisas que não sabem sobre o SEIXO.

E quem é que ia à ti Rosa buscar lexivia ao litro e roupa a retalho!?

Anónimo disse...

Fui eu que me lembrei do termo "amaigiar" (até pensava que era com j)para cortar as conversas de mal dizer. E foi conseguido pois á volta dessa palavra houve consenso e discussão.
A propósito alguém sabe o que é um "cavalo" (não estou a falar do animal naturalmente)?

Anónimo disse...

Não sei o que é o cavalo que falas, mas sei o que é sopas de cavalo cansado...posso dizer que ainda so do tempo em que demanhazinha era o meu pequeno almoço.

Anónimo disse...

O cavalo? Penso que te referes ao "rego" principal por onde passava a água da rega.
Para os "putos" de agora, cavalo é droga.

Anónimo disse...

o cavalo encaminhava a agua ao longo da terra e a distribuia pelos traveses

Anónimo disse...

No post de 12 de Junho do "SoudaGandara" está uma descrição e são utilizados termos como "regadeiras", "cavalos","almace", "alcatruzes", "cambão"...
Também acho ser esta uma política mais doce e acertiva a utilizar! Não se ofende ninguém e transmite-se cultura...

Anónimo disse...

Alguem me sabe informar se já existe alguma recolha destes léxicos? (regionalismos)
Refiro-me a um trabalho que trate só deste assunto e não a referências que se fazem em artigos ou textos de livros que tratam de outros assuntos.

Preto nu Branco disse...

Bom desafio!
Estou capaz de alinhar contigo! Mas.. deixemos passar este "período conturbado" e, depois das eleições, juntemo-nos no Salão Paroquial, no salão da Junta, na Escola do Seixo, no Largo da Igreja Velha, na Sede do Rancho, no Largo do Zé Velho, numa das Fontes do Seixo, num qualquer sítio que nos diga qualquer coisa e... abracemos esse projecto!
Uma autoria partilhada torna o trabalho mais rico...

Madalena Oliveira disse...

Relativamente à questão levantada pelo nosso bloguista "Anónimo" sobre a "recolha destes léxicos (regionalismos)",sei o seguinte:

. Fátima Bica publicou, em tempos, no jornal "Voz de Mira" uma sequência de artigos com o levantamento de vocábulos gandareses e especificamente de Mira. Desconheço se editou esta pesquisa em livro;

. Idalécio Cação editou,
em 20002,GLOSSÁRIO DE TERMOS GANDARESES.

Anónimo disse...

Do anónimo anterior:

Ok. Então já existe um glossário de termos gandareses. Tinha essa ideia. Se calhar teremos de ficar mesmo só pelos que são "mesmo nossos". Haverá mais alguem que saiba o que é uma "garrôa"? Uma "póla" (cair uma póla)?
Acho a ideia mt interesante.
Deixo o desafio ao SEIXOMIRENSE: Colocar um Post sobre esta iniciativa - recolha de vocábulos (ou regionalismos, se quiserem)do Seixo.
Quanto ao deixarmos passar esta "fase conturbada", poderá ser uma boa ideia. Mas, também tenho receio que depois desta fase os ânimos arrefeçam mais e os possiveis colaboradores deixem de comparecer aqui com a frequência que o fazem agora. Além disso, agora estamos a quente... se deixarmos passar, perdemos a oportunidade.
Em relação ao local de encontro, qualquer um dos que foram nomeados seria bom - para quem mora no Seixo. Como alguns moram fora, teremos aproveitar esta ferramenta assincrona para comunicar.

Rochinha

Anónimo disse...

Deste lado está muito mais calmo.
No outro post, baixaram demasiado o nível e perderam a compustura.

seixomirense disse...

A ideia é muito boa mas parece-me uma tarefa gigantesca fazer eu o levantamento das palavras próprias do vocabulário seixense.

Anónimo disse...

Para o Seixomirense:

Peço desculpa, mas não me fiz entender.
A ideia não era seres tu a fazer o levantamento. De maneira nenhuma.
Era simplesmente, como administrador do Blog (e não querendo usar as ferramentas sem autorização do dono), lançares um post com o desafio a quem quiser participar.

Rochinha

seixomirense disse...

Ah, claro, um dia destes lanço esse desafio. Obrigado pela sugestão, Rochinha.

Preto nu Branco disse...

Esta campanha "está a ser uma caipora"! Creio mesmo que vai ser uma caipora para alguém que entrou, ou que saiu, ou que empurrou, ou, ou, ou... Parece haver uma estrebantada e vir lá ao longe uma aberta!Será que as águas vão clarear e as poeiras vão assentar para deixar que a verdade surja, nitida, natural, esclarecedora,sem provocar ressentimentos?