terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Teatro no Seixo

Comecemos pelo importante: o teatro do Seixo foi um sucesso. Porquê? Tal como me dizia um amigo que também costuma ser actor da secção por carolice, o objectivo principal foi alcançado. Foi conseguido porque toda a gente se riu. Tendo em conta que a peça era uma comédia, a constatação de que se atingiram os objectivos é óbvia. Ou nem por isso. Devo lembrar que assisti ao lado dum senhor na casa dos 50 anos, que não largou um sorriso, o que não significa que não tenha gostado. Só que a sua resistência (o senhor até tem bom humor) para se deixar levar pela riso geral, apenas se pode justificar por uma razão: na ideia dele o Seixo merece mais do que uma peça em que se passa a segunda parte a fazer graçolas com peidos e com piadolas de "pensava que estavas morto, afinal estás vivo"! Havia qualidade no elenco para mais. Pode ter sido uma estratégia para fazer chegar o teatro a toda a população, de todas a idades, mas essa ânsia de conseguir a transversalidade social da peça, acaba por deixar de parte quem queria assistir a uma comédia num patamar um pouco superior ao de Batanetes ou Malucos do Riso. Não é pedir muito. Ninguém pede nada de intelectual de mais. Nada disso. Mas peidos não.
Sejamos honestos, fazer uma comédia a girar à volta da problemática da flatulência, abusando do cómico de situação (vivos que se pensavam mortos) é algo ainda mais bimbo, mais simplório e mais boçal do que Malucos do Riso.
Tentar que uma peça seja transversal, que toque a toda a população, é tão difícil como fazer com que a manta tape os pés e a cara. E essa dificuldade, é tida em conta e respeita-se. Neste caso optou-se por baixar o nível e tapar os pés. Pode ser que duma próxima vez se aposte em tapar a cabeça.
Há peças que se conseguem ver duas vezes, mas neste caso eu pergunto, quem consegue ver piadas saloias sobre "tracks" duas vezes seguidas? Eu conheço indivíduos com menos de 12 anos que certamente o façam!
Os apartes actuais, condizentes com a realidade do Seixo foram bem conseguidos, excepção pelo menos àquele aparte final com um suposto Bispo que estava na plateia (que valha-me Deus! Sim, posso ser católico e não herege), que não foi mais do que um momento subserviente, bacoco e paroquial, ao mesmo tempo, triste.

Todo o teatro acaba por ser um paradoxo, o preço, uma exorbitância, como se fossemos ver uma peça produzida pela companhia profissional O Bando, de Palmela. Se se pensaria que o preço poderia elitizar o público alvo, engane-se, pois apesar de afuguentar os mais carenciados, consegue chamar aqueles idosos com as suas boas reformas que se desmancham a rir à mínima peidola largada do palco. É isto a terra dos pseudo-doutores?
Teatro direccionado para os idosos que ainda têm o rei na barriga. Os idosos que julgam que ainda andam a perpertuar a sua casta. Idosos que já ouviram falar ao de leve em pensões de 150 euros.

A todos os que participaram com esforço e dedicação e fizeram o que lhes foi pedido, há que enaltecer o que disse de início: foi um sucesso, todos se riram.

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