quinta-feira, 28 de maio de 2009

SNS (continuação)




3 horas da manhã, a decisão. Ir às urgências dos HUC. (agora perdi-me, acabaram-me de perguntar na aula a diferença entre meta-análise e revisão da literatura numa investigação científica. Pronto já dei a volta à professora, posso continuar). Como eu estava a dizer entrei nos HUC (Hospital da Universidade de Coimbra) deram-me uma pulseira amarela (percebo pouco de pulseiras mas os amigos aconselharam-me a ter ar de sofrimento para não me darem a pulseira verde). Estava pouca gente, fui atendido em 5 minutos por um médico com sotaque espanhol. Disse-me que de madrugada só havia urgência de estomatologia no Hospital dos Covões. Então propôs-me: ou receitava-me mais um analgésico ou encaminhava-me para o outro lado do rio Mondego para ser visto por um dentista. Como eu não tinha pago 9.40€ de taxa moderadora (pensavam que era de graça?) para me receitarem mais um inconsequente analgésico (já não podia tomar mais), peguei no carro e passei a ponte para o lado de lá. Já eram quase 4 da manhã. Lá andavam as prostitutas na baixa para trás e para frente e malta a divertir-se na noite. Levava uma carta dos HUC, deram-me uma pulseira também amarela e em menos de 5 minutos fui atendido por uma médica geral da minha idade que me tratou por tu. Tive quase a certeza que não estava lá nenhum dentista, devia estar em casa a dormir de prevenção e só o chamariam se aparecesse alguém que tivesse partido os dentes. Viu-me a boca, uma fachada apresentável à frente, com uma podridão lá para trás e disse-me: "vamos dar-te medicação intravenosa". Com as dores e o sono que tinha era mesmo isso que eu queria ouvir: droga para a veia. A primeira dose foi para forrar e proteger o estômago, a segunda dose de cavalo foi para me fazer passar a dor (se fosse morfina não me importava) e depois fiquei a soro muito lentamente. Deu-me o varão de rodas com o soro pendurado para a mão (quase me senti um stripper) e encaminhou-me para uma sala sozinho onde me aconselhou a sentar ou deitar numa marquesa para descansar. Apagou a luz e sentei-me, de início senti-me um Hermínio sentado na marquesa das massagens do futebol, pensativo após uma derrota. Passados 3 ou 4 minutos a dor já tinha desparecido, senti-me drogado (mesmo sem nunca ter sido drogadito), deitei-me e adormeci. Às 5 da manhã acordei, como o soro estava a andar pouco, abri mais a válvula e como estava quentinho voltei a dormir. Acordei já passava das 6 da manhã, como o soro estava quase acabar, chamei alguém que foi falar com um médico. Apareceu depois um doutor que me receitou um antibiótico, mais um analgésico e aconselhou-me a tratar dos dentes nos serviços sociais da universidade. Deu-me alta e lá fui dormir quase às 8 da manhã, como não tinha aulas e só ia trabalhar às 20h acordei como um homem novo para ver e trabalhar na final da Liga dos Campeões. Que raio, depois vim a descobrir que o veterinário da minha casa também receita antibióticos, bastava dizer que era para um cão grande e já podia ter uma dose condizente com o meu porte.

Conclusão, o SNS serve para alguma coisa, o meu objectivo foi cumprido, precisava de aliviar as dores e dormir e foi o que sucedeu. E todos foram simpáticos. Mas e se estivesse muita gente? E se não tivesse carro para ir dum hospital para o outro? E se não tivesse 10 euros para pagar a taxa? Ou 5 euros para ter a receita? E se estivesse no Seixo, mandavam-me para Cantnhede e depois? E tive sorte, fui para uma sala sozinho, mas estavam idosos deitados em macas nos corredores. Sobre os fechos das urgências, nem que lá vá só uma pessoa por noite, a prioridade dos nosso impostos tem que ser para a saúde dos portugueses, por isso não me importo de pagar para um médico e um enfermeiro estarem toda a noite a olhar para o boneco.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei da história e tenho 3 comentários:
1 - Uma "falsa urgência" ;). Quando foi ao SU já tinha "passado o prazo". (rss) Deve ter sido assim que pensou o Sr. Enfermeiro que classificou a prioridade de atendimento e lhe deu a pulseira amarela.
2 - Não sabia que os Covões tinham urgência de Estomatologia e os HUC não. Mas também para quê ??? Para estarem a dormir ? É o que se deduz.
3 - É uma pena que estejam a "arrumar" o SNS.
Um abraço e ... vote bem.
Jorge