quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O estranho caso de Tomás Bacelo - 2

Como ia dizendo, não é absolutamente necessário saber falar inglês quando não se está a frequentar um curso na área de letras. No entanto ajuda, porque muita da literatura que suporta cientificamente os cursos de ensino superior é literatura escrita em inglês. Isto para dizer que é de valorizar quem obteve 20 a inglês no exame nacional. O rapaz não fez matemática? E depois?
Veja-se o caso de muitos professores de escola primária actuais. É possível haver professores de primária que quando eram alunos, tendo negativa a matemática até ao 9º ano, foram para os cursos de letras para fugir à disciplina terror do secundário. Ou seja, ficaram com matemática do nível básico e mal. Depois entraram nas escolas superiores de educação, onde se aprende o eduquês, com muita pedagogia e pouco conteúdo matemático. Aí se formam e vão dar aulas aos meninos da 4ª classe. Mas isso não preocupa o país. O que preocupa é o caso individual de Tomás Bocelo, um rapaz que não fez o secundário por causa de uma ou duas disciplinas, inscreveu-se nas Novas Oportunidades e a seguir entrou no ensino superior. Quem faz o ensino secundário pela via tradicional tem inúmeras possibilidades de melhorar as notas para entrar na universidade. Tomás Bocelo não. Apenas teve uma chance, um exame. Se lhe corresse mal, se estivesse num dia não, se bloqueasse, não tinha mais nenhuma hipótese, mas ele aproveitou-a e teve 20.

Um caso que causa confusão é o de Luísa Gaio, que abandonou a escola na adolescência e mais tarde fez o 9º através do Programa Novas Oportunidades. Depois candidatou-se no contingente especial de maiores de 23 (teve que fazer as provas que a faculdade de letras de Coimbra lhe propôs) e entrou em Turismo, Lazer e Património da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Fez, com 14 valores de média final, as 12 cadeiras do primeiro ano chegando a ter notas de 19. Resta dizer que ela é casada e já no 2º ano, a universitária percorre diariamente 130 quilómetros de automóvel, entre Avelar, concelho de Tábua, e Coimbra. Levanta-se às 6h, para cuidar dos filhos que vão para a escola, e chega à Alta coimbrã antes das 8h, para garantir estacionamento próximo da Universidade. Não está em pé de igualdade com os outros miúdos de 19 anos. É caso para perguntar, o curso é fácil, ou ela é uma trabalhadora dedicada incansável, com o mínimo de inteligência?

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