sexta-feira, 4 de junho de 2010

Estereótipos


O empregado de mesa é uma classe trabalhadora que partilha de algumas características dos taxistas e dos barbeiros. Como socializam com uma quantidade de pessoas muito heterogéneas e têm muito acesso a meios de comunicação (taxistas têm a radio, barbeiros e empregados de mesa têm jornais e tv), estão sempre relativamente bem informados e têm sempre conversa para qualquer tema da actualidade e não só. Faz parte do trabalho, muitos clientes até levam a mal quando não são apaparicados com as conversas (muitas vezes banais) enquanto são atendidos.
Eu admito que quando vou num táxi, nem que seja por 5 minutos, gosto que o condutor troque meia dúzia de palavras comigo. "Donde é? Ah, sou de tal sítio! Ah, uma vez fui lá e aconteceu-me... Blá, blá, blá!"
O que os empregados de mesa têm de idiossincrático é a piada de de algibeira. Aquela piada que passa de geração em geração, de colega para colega de trabalho. E se, para quem a ouve apenas uma vez de 3 em 3 meses pode ter alguma graça, para quem a ouve diariamente provoca exactamente o contrário. Muitas vezes os empregados de mesa já vêm formatados com 5 ou 6 graçolas, que sabem aplicá-las quando decorrem aquelas situações que eles próprios já estão à espera, já nem se dão ao trabalho de inventar nada.
Um dos clichés mais gastos é o diálogo: "Eu queria..."- "Queria mas já não quer?"
Conta-se que um destes dias um camarada que às vezes dá uns toques como empregado de mesa (e pelos vistos com todo o orgulho) foi a um café a seguir a uma futebolada.
Dirigindo-se ao funcionário (que até conhece de vista) pergunta:
-Olhe, queria um SG Ventil.
-Querias, mas já não queres?
-Quero, quero.- (A tentar não ser desmancha-prazeres e não desfazer a graçola que tanto trabalho deu a imaginar).
-Nem pareces que trabalhas na hotelaria há anos.
-Ah, não costumo usar especificamente essa piada (como se até usasse outras parecidas).
-Ai eu uso, com as gajas.... Para...
-Para criar bom ambiente na casa, para as pessoas se sentirem à vontade, não é?
-Pois, pois, é isso. Mas quando são meninas uso sempre.
-Ah, eu nem por isso, é que quando estou a trabalhar, sou assexuado, sou como os caracóis, reproduzo-me sozinho. Até logo.
- Xau, obrigado!

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