segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Teatro


Na sexta-feira saí das cavernas, larguei a moca, deixei de ser primário e básico, subi um patamar na teoria de Darwin e deixei de ser um homus floresiensis para passar a ser um homo neanderthalensis. O meu próximo passo será tentar transformar-me num homo sapiens mas para isso tenho que papar mais uns momentos teatrais. Fui finalmente ver a peça de teatro Hotel Sarilhos de José Lopes de Almeida e agora já posso finalmente circular nas ruas do Seixo como uma pessoa culta, como um cidadão quase igual aos outros. Estou só à espera que um dono qualquer do Seixo e a ministra Gabriela Canavilhas me envie o certificado de Pessoa da Cultura, válido apenas até 25 de Dezembro à noite.
A compra do bilhete ainda foi atribulada, como que a testar se realmente queria entrar no mundo da cultura ou não. Anunciaram no campo da bola que os bilhetes estavam à venda e a sua localização, mas tendo partido de imediato, não estava lá ninguém. Mais tarde lá consegui arranjar. Primeira fila da parte de cima. Podiam-me ter avisado que nessa fila o gradeamento estorva a visão. Não impede de ver o espectáculo mas incomoda. O vendedor deve ter topado que eu era das cavernas e não achou necessidade de me avisar quanto ao gradeamento, partindo do princípio que eu não teria sensibilidade cultural. Tanto alarido e no final de contas a parte de cima não encheu nem perto disso. Obviamente que na segunda parte mudei de lugar. É que isto de ver umas pernas cortadas por uma barra horizontal, é quase como um cego colocado atrás dum pilar na bancada dum estádio de futebol.
Estavam entre 200 e 280 pessoas o que é uma boa casa. O teatro era direccionado para os emigrantes. Pode-se dizer que eram 30% da plateia. O salão está bonito, bem arranjado, acolhedor, deduzo que mais eficiente energeticamente durante o Inverno. Era para ir ver a zona do palco mas não me apeteceu dar azo a olhares reprovadores e murmúrios sectaristas.
A peça foi entretida e bem representada. É a história de duas garotas filhas duma Viscondessa falida, que estando as 3 hospedadas num hotel com mais 4 clientes, simulam o roubo duma jóia da mãe para chegarem à confirmação de algo que desconfiavam. Tudo isto com a interacção do dono do hotel, da filha e de um casal de funcionários da firma.
Todos os actores representaram bem e todos deram um contributo importante à qualidade da peça que durou cerca de hora e meia. Achei estranho o facto de um dos melhores actores do Seixo (senão o melhor), não ter paticipado.
6 e 7 euros parece-me um preço ambicioso. Por exemplo, o grupo (profissional) de teatro Escola da Noite, cobra 6 euros para estudante e 10 euros para adultos e não se ouve o ponto. No entanto no teatro amador não me escandaliza a existência do ponto e além disso apenas o ouvi uma vez, e muito baixinho.
Resta constar (eu sei que em Portugal não se gosta muito de quem faz contas de merceeiro) que entraram em caixa não muito menos do que 1700 euros, cerca de 340 contos.
Agora já posso jogar à bola à vontade, sou um ser intelectual, aos olhos dos donos, até Dezembro.
Parabéns a todos os responsáveis, claro.

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