quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Torneio do Seixo


Tranquilo. Normal. Descansado da vida. Gosto do Seixo. Gosto das suas pessoas simples, gosto da sua natureza. Gosto do seu espírito pseudo-solidário. Gosto da sua idiossincrática hipocrisia. Chamam-lhe agora inteligência emocional. Gosto das palmadinhas nas costas recheadas de ironia e de segundas intenções. Como se de um bolo envenenado se tratasse. Mas não me refiro àqueles bolos "quitados" com substâncias psicotrópicas. Gosto dos olhares de quem nunca foi escrutinado mas que agora tem que andar na linha. Gosto do pavor face à crescente consciência social do povo. Mas há um longo caminho a percorrer. Que demorará décadas. Passará inevitavelmente pela educação. Gosto de passar dias e dias sem avistar drogaditos, e isto é um grande elogio.

O torneio do Seixo continua... Anda discreto como o impacto das propostas educativas para o fim da reprovação dos coitadinhos dos alunos. Os miúdos podem vir a ter traumas. E a retenção fica cara ao governo.
Gosto quando uma equipa entra no torneio já depois dele começar, fazem sorteio para a inserir, mas não chamam todas as equipas para assistir. Porque há ministros e há enteados. Há opinion makers e há os grilos que falam mas que não são ouvidos. Não interessam se estão qualificados a falar. Interessa quem são. E se quem são não interessa, então podem falar à vontade. Mas nunca serão ouvidos. Nada de anormal. É o Seixo. E como disse, gosto do Seixo.
Hoje havia uma situação fácil de resolver. A parte interessada não tem voz. Os seus argumentos não colam, não valem, mesmo com as premissas certas, nem que tivessem a retórica de Aristóteles. Nem com linguagem erudita nem com linguagem terra a terra. É uma voz que não existe. Não tem linhagem. E quem a ouve fecha e tapa os ouvidos. É de pequenino que se torce o pepino. Perdão, é de pequenino que se começa a discriminar.
Mas chegaram os opinions makers e desbloquearam a situação. Só havia uma decisão a tomar. Não há nada a agradecer. Assim como Timor não tem que agradecer a intervenção tardia da ONU. Os timorenses apenas têm que exigir que tivessem sido tratados como o Kuwait. Justiça sempre! Igualdade já. Nada a agradecer aos Vascos Pulidos Valentes, nem aos Marcelos nem aos Ferreiras Fernandes. Os argumentos não podem ser olhados a pensar na sua origem mas no seu conteúdo.
A melhor equipa quase que entrou em campo hoje. Quase. Já só entrará em campo segunda-feira. Mas se o quase já perturbou tanto, como será daqui para a frente?
Parece que o torneio nunca mais será o mesmo.
Foi bom. Relembrei tempos em que ser melhor não era suficiente para ganhar. Bons tempos, mas duros. Tempos de emancipação, de liberdade, que muitos hoje usufruem mas que não reconhecem os precursores. Há gente que não tem cabeça para ter poder nas mãos. Podem não ser más pessoas, mas são atrasados mentais. Todos temos um atrasado mental dentro de nós. Não é grave. E ainda há os que fazem 20% da população doente, degradada mentalmente.
E no fim, o segundo melhor jogador do torneio deixou 3 adversários no chão e o silêncio sepulcral voltou. Aquele silêncio que já não se ouvia há 4 anos. Tinha saudades. E ainda não começou. Não foi a justiça. Foi apenas o Karma.
É por estas e por outras que gosto do Seixo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Adorei. Grande texto.. Talvez o melhor post de sempre!

Anónimo disse...

Também gosto do Seixo.