sábado, 3 de julho de 2010

Grandes Mistérios do Seixo, 31º A inexistência de Jardim de Infância.


Jardim de infância estatal, claro. Tem pouco de misterioso. É uma questão de interesse da elite na desesperada ânsia da perpetuação das desigualdades sociais e uma questão de incompatibilidade, segundo a DGEC.

Nos anos 60 e 70 com a população a viver predominantemente do sector primário da economia, as crianças até aos 6 anos acompanhavam os pais na lavoura, não sendo necessário uma instituição de acolhimento para elas. Quando a população activa começou a movimentar-se substancialmente para o sector secundário e terciário, surgiu a necessidade do aparecimento dum espaço onde se pudesse deixar os garotos até aos 6 anos. Como António Guterres ainda não estava no poder (não estavam implementadas ainda as suas políticas condizentes com a sua grande paixão: a Educação), acabou por não chegar ao Seixo nessa altura, a dinâmica da criação de espaços públicos onde pudesse ser ministrado o ensino pré-escolar, hoje chamados Jardim de Infância.
O que interessava era a criação de um local seguro (houve pelo menos um caso trágico que provou que não era tão seguro assim) para os miúdos.
Não interessava se tinha profissionais qualificados, se contemplava práticas pedagógicas adequadas e aceites pacificamente pela comunidade científica, se promovia a estimulação sensorial, cognitiva ou até a boa integração social, se intervinha postivamente no desenvolvimento infantil. Não era relevante se se fazia a despistagem de necessidades educativas especiais ou de dificuldades de aprendizagem (contornáveis, desde que fossem bem diagnosticadas e sujeitas a intervenção).
Não era importante. E não era fundamental porque a hegemonia dos "poderosos" nunca iria estar em causa. A desigualdade entre as linhagens nunca iria perder-se. E porquê?
Porque os filhos dos "ministros" que merecessem uma atenção especial até aos 6 anos (e que quase de certeza não tiveram), seriam hiper-acompanhados durante a escola primária pela querida professora (ou professor) que nunca se cansaria de os estimular.
Os filhos dos desfavorecidos? Ou eram génios, ou estavam condenados ao abandono, ao desterro, ao desleixo, e como se não bastasse, ainda eram brindados com palavras de alento nas aulas tais como:
"És um burro!"
"Nunca vais aprender".
"És tão burro como o teu pai".
"A tua mãe também era uma tapadinha como tu"
e sempre acompanhadas pelas tradicionais canas e reguadas. E os filhos dos "ministros" que eram burrinhos? Perdoem-me este desvaneio não científico, eu sei que pedagogicamente não há burros, mas também sei que a mal-criadagem nem sempre se cataloga pedagogicamente como hiperactividade. Mas quantos aos filhos dos "ministros" que tinham dificuldades de aprendizagem? Eram sempre tratados com reforços positivos, com estimulação, que como se sabe, faz a diferença numa boa prática educativa.
Além disso para que interessava um Jardim de Infância público em vez do pseudo-privado? Se fosse público não se poderia escolher o pessoal que lá trabalhasse, e assim, como se podia satisfazer a clientela aristocrata que queria o empregozito? Além disso o privado garantiria pagamento e pagamento afasta as classes socio-económicas mais desfavorecidas. Era necessário salvaguardar que as instuições educativas nunca pudessem desempenhar a função de único ascensor social que os zés-ninguém tivessem à disposição.
Claro que hoje, com o Centro de Bem Estar Infantil, possuindo também a valência de Jardim de Infância, torna-se desnecessário aos olhos da Direcção Geral de Educação do Centro, a existência de um Jardim de Infância.
Resta confiar que estes objectivos da Educação Pré-Escolar, que estão na lei portuguesa, estejam a ser atingidos:

a) Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança com base em experiências de vida democrática numa perspectiva de educação para a cidadania;

b) Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito pela pluralidade das culturas, favorecendo uma progressiva consciência do seu papel como membro da sociedade;

c) Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à escola e para o sucesso da aprendizagem;

d) Estimular o desenvolvimento global de cada criança, no respeito pelas suas características individuais, incutindo comportamentos que favoreçam aprendizagens significativas e diversificadas;

e) Desenvolver a expressão e a comunicação através da utilização de linguagens múltiplas como meios de relação, de informação, de sensibilização estética e de compreensão do mundo;

f) Despertar a curiosidade e o pensamento critico;

g) Proporcionar a cada criança condições de bem-estar e de segurança, designadamente no âmbito da saúde individual e colectiva;

h) Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências e precocidades, promovendo a melhor orientação e encaminhamento da criança;

i) Incentivar a participação das famílias no processo educativo e estabelecer relações de efectiva colaboração com a comunidade.


4 comentários:

Anónimo disse...

Se vais explicar desvendar assim, de forma tão exaustiva, tão sustentada, os grandes mistérios do seixo, vais ter pano para mangas. E vais ter q te aguentar à bronca. Parabéns, muito bem explicado.

Anónimo disse...

Não mereces comentários. Citando o "Grande" Oliveira Salazar "a ignorância é o pior de todos os males" - Só aqueles que usufruiram de tão grande valência podem dar o valor de quanto lhes foi e é útil o Centro de Bem estar Infantil do Seixo. Não sou "seixense" mas gostava de o ser...adoro o Seixo e o empreendedorismo das suas gentes. Bem hajam, aqueles que o são de verdade.

Anónimo disse...

E aquele que lá ficou estendido uma vez, também tem muito a agradecer.

Anónimo disse...

E, em vossas casas ou na de muitas famílias, nunca aconteceu nada de mal a crianças ou a alguém, apesar da muita vigilância? Reflictam!...