sexta-feira, 26 de junho de 2009

A Escola Primária de há uns anos

A escola primária de há 20 anos não é igual à actual. Não tinha cantinas nem almoço para as criancinhas não terem de ir a casa ao meio-dia. Não havia Magalhães. Quer dizer, falava-se de Magalhães, mas era o navegador transmontano que trabalhou pelos espanhóis. A escola primária hoje em dia chama-se 1º ciclo do ensino básico.

Há quem defenda que a escola apenas reproduz as desigualdades e reflecte aquilo que se passa fora das suas 4 paredes, e que não obedece ao conceito de meritocracia. Foi na escola primária que comecei a assistir às primeiras injustiças. Fala-se de violência hoje nas escolas, mencionando várias causas, mas esquecem-se que até cerca de 20 anos atrás os professores exerciam violência física e psicológica dura sobre os alunos, na escola primária e não só! Os filhos desses alunos que têm hoje entre 6 e 18 anos têm pais que levaram muito nas trombas, dos professores. É óbvio que acabam por passar uma má imagem da escola aos filhos. Os filhos podem criar idéias de ressentimento perante os professores ("vocês batiam nos meus pais mas agora não vai ser assim"). Isso aliado à perda de poder e estatuto dos professores hoje em dia e devido a outros factores que não interessam para aqui provocam violência nas escolas.

Frequentei a escola Primaria Seixo 2, que é nas Cabeças Verdes, na Baleira Texas. Hoje ainda funciona. Tinha abrunheiros que davam fruto (ameixas, para os citadinos) lá para Junho. O areal era enorme e o espaço para brincar era muito! Travaram-se grandes jogos da bola naquela areia. Trouxe muita dela para minha casa dentro dos sapatos. Quando a bola ia para a casa do Helder Seabra (Russo) e do Carlos Miguel (saudade) estava tudo bem, mas quando ia para casa do Ti Maurício estávamos lixados. Na primária, normalmente só se tinha um professor durante os 4 anos se não se chumbasse em nenhum. A minha professora não era má de todo comparado ao que eu ouvia dizer nas outras classes (turmas). Batia-se nos alunos principalmente por não saber (errar nas respostas, não conseguir fazer), por falta de respeito, por não fazer os trabalhos de casa. Não esquecer que pior do que a dor física de apanhar, era a dor psicológica por ser à frente de todos. Mas os critérios de bater eram ambíguos e não lineares. Dependiam da qualidade do emprego dos pais dos alunos, do estatuto social destes, se eram das Cabeças Verdes ou do Seixo, se os pais ofereciam uma "prendazinha" pelo Natal e fim de ano ao professor. Os professores eram mais compreensivos para uns do que para outros, mais carinhosos para uns do que outros. Se os pais mostrassem menos interesse na monotarização do trabalho dos profs, estes sentiam-se mais à vontade de arrear nos putos. Uns eram burros como portas (este conceito para mim não existe) mas quase nunca apanhavam, outros mal se equivocavam, caía logo uma lambada nos queixos.

A esclarecer : não existem BURROS!!!!! Os putos ou têm graves problemas para a aprender, e aí sofrem de alguma deficiência e devem ser encaminhados para o ensino Especial, ou apresentam dificuldades de aprendizagem com possibilidades de minimizar (dislexia, discalculia, disortografia), um bom professor (bem formado) ajuda a ultrapassar estes problemas, ou então o aluno tem problemas em casa (engloba muita coisa), ou vê e ouve mal. Ou seja, todos menos os deficientes conseguem aprender todos os conteúdos mais ou menos à mesma velocidade. A inteligência mede-se por vários padrões, uns decoram bem a tabuada, outros resolvem problemas novos facilmente. A única coisa que justificaria uma séria repreensão por parte dos profs seria o não fazer os trabalhos de casa, mas até aí seria preciso compreender bem a razão. Resumindo, na escola Primária já havia muito tráfico de influência, discriminação, violência psicológica. Os critérios para passar de ano às vezes eram estranhos, havia pessoal que não sabia nada e passava, outros que na dúvida chumbavam logo. Uns eram mais que outros, uns eram beneficiados, outros eram alvos fáceis. Para desculpa existe só o facto de na sequência do Estado Novo de Salazar, devido à baixa escolarização, não havia profs suficientes, tendo-se assim recrutado pessoal pouco qualificado tipo ad hoc para exercerem a profissão, e de terem pouca formação ao nível da pedagogia.

Estarão a pensar que apanhei muito na escola e estou ressentido! Errado! Só fui para as Cabeças Verdes a meio da 2ª classe, deparei-me com discriminação a certos filhos de emigrantes, e apesar da mudança de língua correu bem até ao fim. Ajudei a mostrar que podia haver meritocracia. Os meu pais deram poucas prendas, a Professora puxou-me uma vez as orelhas porque na hora de ir beber o leite, desatei a correr como se fosse para a fila duma organização da luta contra a fome (falta de respeito)! De resto acho que apanhei uma lambadita. Mas vi muita injustiça! Apanhar por não saber? Tenham paciência! E o prof, apanhava por não saber ensinar? Agradecimentos? Talvez os faça, a minha prof ensinava bem, mas tenho que agradecer é à minha mãe e à escola pré-primária que me ensinaram a ler e contar bem antes de entrar na Baleira. Homenagens? Não, obrigado. Mas a Primária também era boa, confirme neste vídeo:

1 comentário:

Susana Falhas disse...

Olá, mais um vez! Os tempos de infância são sempre muitos bons para recordar e relembrar que os tempos de agora já são outros...o respeitinho pelos professores está a acabar de dia para dia ...

Mudando e assunto: parece que meu amigo conhece mesmo pessoal da Mêda! Será que tiveste o privilágio de te cruzar com a minha irmã e o meu cunhado, que estudaram ambos em Coimbra (Ana Falhas e João)? Sei que ela tinha um amigo de Biologia que morava na Mira...será que és tu?

De facto o nosso presidente passeia muito por aí, porque ele é daí. Eu também já me cruzei com ele aí em Coimbra...

Abraço Susana